quarta-feira, 13 de agosto de 2008
NINA ROSA

Eu disse que não mas fiquei pensando nas parábolas da Bíblia em que negam comida e água pra Cristo. Isso mesmo, aquelas parábolas do tipo: uma mulher convidou Jesus para jantar na casa dela. Era pobre e guardou o único pão que tinha para o Messias. E esperou, espero, esperou. Bateram à sua porta três pobres pedindo um pedaço de pão. Mas ela disse que não pois esperava o Cristo. Dias depois o Cristo lhe aparece e ela diz: Senhor, por que não vieste? E ele diz: mulher, eu vim três vezes mas me negaste o pão.
Eu fico nessas de pedir namorado. De repente um homem jovem e bonito me pára na rua e me pede guarita. Eu nego. Amanhã ou depois Deus tá batendo lá em casa e dizendo: "você mandou o homem pro albergue ... "
Explico: tô eu caminhando com o cão às 7 da matina e um cara bonitão pára de carro ao meu lado perguntando se eu sei onde fica a rua tal. Explico onde fica. Ele passa.
15 minutos depois o mesmo bonitão: escuta, é que eu cheguei de viagem, ía ficar na casa de um amigo, mas cheguei lá e o cara num tá. Liguei e ele não atende. Tô precisando de um lugar pra tomar um banho e dar uma dormida. Ao meio dia tenho uma reunião aqui em BH. Será que você não me aluga um quarto na sua casa? E lá fui eu explicando que não dava, que eu morava só com minha irmã, que ele me desculpasse mas que o mundo tava muito violento e tal...Indiquei um albergue próximo.
Mas fiquei o dia todo pensando em parábolas... posso ter negado pão, digo, abrigo a um enviado divino.
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Tássia Novaes

faz exatamente um ano. estava em Santa Cruz de La Sierra, o centro rico da Bolívia, pra gravar o documentário. na esquina da rua do albergue Bolivar, onde estava acomodada com o resto da equipe, uma placa de conexão Wi-fi me fez entrar no café de decoração charmosa. nunca consegui acessar a internet daquele lugar. mas esse é um detalhe que pouco importa. foi lá que conheci el camarero más guapo del mundo. sem dúvida, esse saiu direto dos meus sonhos. argentino, de Salta. pele clara, olhos verdes. queixo quadrado estilo homem de verdade, lábios definido estilo beije-me se for capaz. cabelo tom castanho claro caído no rosto sem corte definido. fala forte, devidamente apropriada à nacionalidade latina. olhar deslumbrante. era ele quem sempre me atendia. sempre. e sempre vinha na mesa perguntar qualquer coisa. nem que fosse pra saber se a água servida estava na temperatura desejada. nem que fosse pra limpar o suor da garrafa gelada que ainda nem tinha transpirado a ponto de carimbar uma rodela ensopada na mesa de madeira século XX. e assim a gente conversava e conversava. a cada troca de pratos, olhares. a cada nova taça de chopp um sorriso denunciava. a gente se entendia. el camarero sabia o poder da sua beleza. foi o único a contrariar a tendência da viagem. estar acompanhada 24h por quatro homens é que nem mascar um dente de alho: ninguém encosta. el camarero não se intimidou. um dia, no café da manhã, recebi um bilhete entregue na recepção do albergue. era um convite irrecusável com horário, intenções e endereço. gostei da letra, as frases seduziam, combinavam com a voz. perfeição inegável arrematada por todo aquele conjunto milimetricamente esculpido por deuses latinos. o expediente do rapaz terminava tarde, a minha rotina pautada no presidente era puxada, mas valia a pena ficar acordada. ahhhh, valia. era de renovar ego, corpo, humor e espírito. filho de jornalista abandonou a faculdade de economia para jogar futebol em um time da segunda divisão na Bolívia. projeto faliu, virou garçom. a gente podia conversar sobre qualquer coisa que dava certo. podíamos ficar em silêncio que dava certo também. tínhamos ainda a natureza a nosso favor. na madrugada cruceña, o churasco, vento gélido de mais de 60 km/h vindo desgovernado da Patagônia argentina funcionava melhor do que cupido. gastamos horas contando estrelas. pulamos apenas as juras de amor. deixei a cidade uma semana depois. tenho endereço, telefone, email. nunca retornei. o bilhete está guardado com carinho numa caixinha. pra lembrar que não foi sonho. viver é mesmo algo divino.;
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Carminha Santiago

Mas mulher com síndrome de solidão é buuuuuurrrra que só! Sabe a história do "cuidado com o que você pede que Deus atende"? Então vem cá: tu disse pra Deus que o amigo do Homem tinha que estar em casa? Tu disse pra Deus que o HOmem tinha que estar limpo, descansado e cheio de assunto pra ficar conversando contigo dentro do carro até o amigo dele chegar? Tu disse pra Deus que tu tinha que conhecer o Homem?
Mas ó, tu é burra porque não pediste um número de telefone pra ligar depois, saber se ele estava bem acomodado ... etc.. Não pediu né burra? Sabia ... eu sabia ...
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Carla Arend

era sábado e chovia. noite e frio. fui na locadora e tinha um desses que nunca se sabe de que país da américa latina são - esses pirofagistas cheios de dreads e roupas e lenços e barbas e cheiros de marijuana - rindo no meio da rua. ofereci espaço no guarda-chuvas e ficamos um tempo conversando. era peruano, tinha olhos lindos. eu morava sozinha. estava, absurdamente sozinha. que mal convidá-lo pra jantar? convida-não-convida, afinal, eu falava espanhol! não convidei. ele voltou pro meio da rua e eu fui pra minha casa quente e colorida e vazia.
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Carminha Santiago

Mas um dia, depois de dezenas de trocas de olhares no avião no vôo de duas horas, antes do saguão você e chega no moço de camisa de seda e pergunta: "Você tem um cartão?" Ele gagueja nas três primeiras sílabas querendo dizer alguma coisa que não sai e você interrompe: "Eu só quero o seu cartão". É impagável meninas ... Só esse momento vale uma noite inteira de sexo selvagem! [até porque eu não nasci gorda, mas louca fui sempre]
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DOROTÉIA

Já eu estava numa das salas de espera do Congonhas (minha patroa é Divina e não vive sem mim), sozinha, esperando o vôo pra Ribeirão Preto. Aí entra aquela divindade toda, sorrindo pra mim! Olho em volta, surpresa, só estava euzinha. Parecia alguém familiar, mas tudo aquilo olhando e sorrindo prá mim?... Carregava uma pasta e um tubo de projeto arquitetônico, e sentou-se há uns três metros de mim. Segui lendo e ele, às vezes me olhava, outras vezes sorria. Isso durou uns 20 minutos até chamarem a ponte aérea SP/Rio.Ele levanta e sai. Só aí reconheci o Luciano Zafir. E não, não era pra mim que ele sorria, era pra ele mesmo! Coisas do mundo da TV, mas fiquei lá com os meus botões achando que a Xuxa, de fato, tem bom gosto. E temos quase a mesma idade... ai burra!
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Maria Neusa
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Ari Coelho

Muito bem, meninas. A sabedoria popular já disse tudo: "quem tem medo de cagar não come". Mas... a indigestão é sempre uma possibilidade. É arriscar, ou não.
1986, Ios, ilha grega. Bebendo na praça cercada de bares e danceterias. Vejo uma alemoa, tipo Ana Hickman. Uau! Surpresa. O olhar da deutsch insinua acolhimento. Tomo mais uma dose e chego junto, com meu inglês macarrônico: "Hello!... " E pá e tal. Pouco depois, a divina sussurra em meu ouvido, com voz de Marlene Dietrich:"I want make love with you".
Putz! Pensei: Só pode ser traveca, ou, então membro de uma quadrilha internacional que vai roubar o meu fígado (na época, não sabia que ele tava podre). Quando a esmola é muita... Resolvi encarar, né Ronaldinho? I said: "With me?... Let's go!...", tipo, só se for agora, saca? Acreditem!!! Fizemos amor num penhasco, ao lado de um cemitério, com uma imensa lua refletida no mar egeu. Depois, tive que me conter para não esmurrar o peito e gritar a la Tarzan:
ÔÔÔôôôôôôô!!!
É mole?... Ah!... e não era traveca, não. Mas, se fosse, naquela ambientação toda, e com meu entusiasmo, eu acho que rolava, com beijo na boca e tudo.
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Carla Arend

eu de manhã na bienal admirando um vídeo-arte, sentada, com os fones e um moço do lado. eu saio da sala e o moço vai junto. eu vou pro café do margs e o rapaz pede pra dividir a mesa. até hoje não sei o nome, só lembro do almoço cheio de risadas, das conversas perdidas sobre as tatuagens e infâncias, do tapete muito branco da sala dele, do pé direito alto e dos quadros que ele disse que nunca ia acabar de pintar.
até hoje penso que foi sonho.
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Denis Rivera

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Pat

Ele, vindo do Canadá era geneticamente indiano.
No albergue, nos encontramos e tomamos café juntos, falando uma "interlíngua". Ao sair, uma amiga perguntou: "Que deus grego era aquele?" Resposta:"O deus não é grego, é hindu". Ele estava de partida de Paris e eu de chegada, mas o convite dele foi o seguinte: me encontre daqui cinco dias em Barcelona e te dou uma noite em um hotel das Ramblas. Depois decidimos o que fazer. Fui. Barcelona. Pamplona. San Sebastian.Madrid.
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Rosana Zucolo

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